8.3.16

O Dia Internacional da Mulher

Me incomoda demais, na maioria das manifestações feministas, a incapacidade de separar casos de polícia de outros assuntos, em minha opinião menores, ligados a patrulhamentos politicamente corretos, cotas e congêneres. Minha recusa em apoiar estes movimentos, muitas vezes bem intencionados - e sei que são bem intencionados porque conheço algumas pessoas que os lideram - está única e exclusivamente nesse fato.

Se quiserem protestar a favor do aborto, contra a violência doméstica, contra o assédio no trabalho, no transporte público, na balada, podem me chamar, sou o primeiro a cerrar fileiras. Agora, se o Congresso Nacional tem menos mulheres do que homens, se o salário de vocês é menor que o dos homens, sinto muito. Não é problema meu. E, confesso, não estou remotamente preocupado com isso.

As mulheres que eu aprendi a admirar não esperaram a benevolência de nenhum homem, de nenhum marido, de nenhum governo e de nenhuma lei. Tiveram força para chutar a porta e entrar. Simples assim.

Minha bisavó alemã chocou a comunidade conservadora de Lages, em Santa Catarina, ao defender ideias progressistas e cosmopolitas e ao tocar piano à noite, durante apresentações de cinema mudo. Uma de suas filhas, minha tia-avó Liselotte Ornellas, foi a primeira nutricionista brasileira, até hoje referência na área, e uma das primeiras mulheres do Brasil a seguir a carreira acadêmica. Continua lá, firme e forte, no Rio de Janeiro, com 98 anos. Umas das mulheres mais lindas do Brasil.

A neta da minha bisavó alemã, minha querida mãe, é uma mulher maravilhosa, forte, cheia de personalidade. Lutou bravamente contra a ditadura militar. Uma pessoa que me ensinou a a ser tolerante, ético, a ter valores antes de tudo. Meu pai dizia, ao se referir a ela: "Filho, sabe por que sou apaixonado pela sua mãe? Porque ela sempre foi a Maria, nunca foi a esposa do Roberto".

Essas mulheres balizaram a minha busca pessoal por uma mulher. Demorou muito, mas um dia eu achei. Achei uma mulher mais bonita do que eu, mais inteligente do que eu, mais bem sucedida profissionalmente do que eu, mais generosa do que eu. Detalhe: não nasceu em berço esplêndido, muito pelo contrário. (Perto do meu berço então, nem se fala...). Foi apenas mais uma a chutar a porta. Só me restou questionar por que raios ela me escolheu...

Quando leio as postagens nas redes sociais, tenho a impressão de que vivo no Afeganistão. Não quero negar o fato óbvio de que muitas mulheres brasileiras ainda vivem no Afeganistão. Só quero lembrar que muitos homens brasileiros, já faz tempo, não estão mais em busca de Amélias.

Minha patética opiniãozinha de rede social para o Dia Internacional da Mulher vai, portanto, para essa proposta: muito mais esforço direcionado aos casos de polícia. Muito menos atenção ao discursinho raso de esquerda. Esse (quase) ninguém aguenta mais. Já nos exauriu por diversos motivos. O feminismo "fail" é apenas mais um. E, diga-se de passagem, um dos menos relevantes e interessantes.

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