Escolho este título porque odeio usar palavras inglesas com similar
perfeito na nossa inculta e bela. Herdei esse complexo de Policarpo
Quaresma do meu pai e pretendo levá-lo ao túmulo. Antes de ganhar
qualquer rótulo de ultranacionalista, xenófobo, ou qualquer direitismo
similar, prefiro me prevenir. O primeiro título que me veio à mente foi:
“O que aprendi com o impeachment de Collor e Dilma”. Insisti em não
utilizá-lo só pra reforçar meu Policarpismo Quaresmista. Afinal de
contas, eu me chamo Iatã, nome Tupi-guarani, escolhido pelo meu pai. Ele
sabia das coisas e tinha orgulho de mim, pelo menos até eu me tornar um
neoliberal. Infelizmente, ele não está mais aqui para tirarmos isso a
limpo.
Lição número 1 – Ouça os mais velhos
Lá pelo
início dos anos 90, eu era petista roxo, me achava um profundo
intelectual, tinha soluções de botequim para todos, absolutamente todos
os problemas nacionais. Certo dia, nessa época, eu estava no carro com
uma pessoa muito querida e muito mais velha. Essa pessoa me disse:
“Iatã, eu admiro suas boas intenções. Mas tenha em perspectiva a
história do seu país. Eu já vi essas eleições diversas vezes. É sempre a
mesma coisa. Os anos, as décadas passam, é sempre a mesma coisa”.
Meu pensamento no dia foi: “Caramba, como as pessoas velhas ficam
conservadoras”. Salvo engano, naquele ano os candidatos à prefeitura de
São Paulo eram Erundina, Serra e Maluf. Hoje, quase vinte e cinco anos
depois, eu preciso dizer quem são os candidatos à prefeitura de São
Paulo? Vamos julgar juntos meu interlocutor. É uma questão de
conservadorismo ou é uma questão de perceber o óbvio ululante?
Lição número 2 – Não corte relações com amigos ou parente por causa de política.
Há quem pense como eu. Sim, o PT testou nossa paciência ao limite. Mas,
convenhamos, não fomos nós (eu e a meia dúzia de gatos pingados que
leem meus textos) os mais prejudicados. Nós sobreviveremos. Muito
provavelmente sobreviveremos tomando uma cervejinha, comendo uma picanha
e xingando muito esses comunas no Twitter.
Há quem não pense
como eu. Há artistas que me encantaram, há professores que me formaram,
há parentes que me cuidaram, há muita gente que eu amo e me esforço para
não mandar à merda todos os dias.
A animosidade surrealista
surgida nos últimos anos no Brasil só poderia ser concluída de uma
forma: aquela foto patética de Dilma, Aécio e Lewandowski gargalhando no
plenário do Senado. Um resumo da ópera perfeito. Somos todos perfeitos
idiotas. Ou melhor, seremos sempre perfeitos idiotas enquanto não
entendermos o que significa a busca pelo poder.
A melhor coisa
que fiz nos últimos tempos foi pedir desculpas aos amigos excluídos do
Facebook nos últimos anos. Resgatei uma paz perdida. Voltei à
racionalidade. Política e racionalidade não se dão muito bem.
Lição número 3 – Estude Economia
Um dos maiores arrependimentos da minha vida foi ter escolhido, na
época do vestibular, aos dezessete anos, o curso de Administração.
Deveria ter feito Economia. Vou além, Economia deveria ser matéria do
ensino básico. Qualquer cidadão deveria ter o direito de entender
claramente para onde vão seus impostos, quem paga quanto, o orçamento
público. Isso é tão importante quando saber ler e escrever, quanto ter
saneamento e saúde pública. Todo mundo deveria saber exatamente como
funciona a inflação, as taxas de juro, as opções de poupança e
investimento. Esse assunto, da “Educação Financeira”, posso dizer porque
trabalho no Banco Central, só surgiu há pouquíssimos anos.
Estudar Economia me fez perceber claramente o sentido da palavra
“hipocrisia” na política. Estudar Economia não apenas nos separa dos
ignorantes, por óbvio, mas principalmente nos separa dos hipócritas. Há
poucas bênçãos maiores no mundo.
Lição número 4 –Lembre-se do Cosmos
Meu pai, professor de inglês, francês e espanhol durante décadas,
tinha uma frase muito engraçada: “Life is too short to learn German”.
Quando me lembro dele hoje, acho a vida muita curta para entender a
política tupiniquim, as razões que levaram alguns norte-americanos a
escolher o Trump como candidato, as razões que levaram os ingleses a dar
uma botinada na União Europeia, as razões que levam alguns jovens a se
explodir num ônibus, enfim, temos pouco tempo para entender muitas
coisas.
Termino essas tortuosas com uma conclusão ainda mais
triste. Uma conclusão quarentesca. Não esperem muita coisa, minha gente.
Eu me consolo hoje com certa resignação. Temer escolheu uma equipe
econômica de primeira linha. O resto, eu deixo para o resto. Sou um
economista pragmático. Não tenho mais sonhos adolescentes nem
perspectivas de um líder heroico na presidência da República.
Dizem que foi Keynes o autor da frase: “No longo prazo estaremos todos
mortos”. Não poderia discordar mais dele na Economia, mas, na vida, talvez
faça algum sentido. Não estou mais disposto a perder amigos pela
política. Daqui a quarenta anos, eu estarei morto e, com certeza, não
passarei sem tomar uma cerveja e dar um abraço neles todos por causa de
Dilma e Aécio.
Um comentário:
Muito bom, primo!
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